
Esporte e história local
Há uma tendência nas últimas três décadas de valorizar a história local como expressão da inclusão das pessoas à sociedade, fazendo-as perceber-se sujeitos históricos e não meros espectadores que assistem os fatos ocorrerem. Em Paim e Picolli (2007), vemos esta ideia no contexto da discussão sobre a retomada do real papel da história após o fim da ditadura militar brasileira. Os autores explicam que “trabalhar a história regional e local [...] possibilita perceber que local e regional não são reflexos do nacional” (2007, p. 115). Estudar e entender a história local é também, segundo Fagundes (2006), entender as organizações espaciais e sua crescente diversidade, apesar de todo desenvolvimento que interage e aproxima os povos.
Dentro deste contexto, podemos incluir a investigação histórica desportiva como atividade que possibilita compreender melhor as realidades locais e resgatar a história principalmente de pequenas localidades. As atividades esportivas podem oferecer subsídios para o levantamento histórico de fatos e pessoas que passariam totalmente despercebidas sob uma abordagem puramente macro-histórica. Diversas cidades do interior têm histórias com algum esporte, principalmente o futebol, envolvendo em torno de si personalidades municipais e pessoas mais simples que demonstram sua paixão esportiva através de diversas atividades, desde a simples torcida até o trabalho esportivo de fato (jogando, treinando, presidindo, etc). A respeito disso, Campos (2013) destaca, ao falar sobre o futebol (mas a ideia pode ser aplicada aos demais esportes), a capacidade esportiva de mobilização e organização territorial, além do papel que cumpre muito além das regras e práticas esportivas. Realmente, o esporte, de uma forma geral, tem um papel histórico que influencia as pessoas e mobiliza-as tanto territorialmente[1] quanto socialmente.
Por isto, não se pode perder de vista as manifestações esportivas como importantes meios para se conhecer, aprofundar e resgatar histórias locais. Seja onde for, o pesquisador pode lançar mão da investigação histórica desportiva para aprofundar-se em contextos e transformações histórico-sociais, e este tipo de pesquisa pode e deve ser fomentada em benefício do resgate dos fenômenos históricos.
Referências bibliográficas:
CAMPOS, Israel Cayo. Geografizando o futebol: do global ao local. Revista Holos, Natal, ano 29, v. 3, p. 213-231, 2013. Disponível em: <https://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/1333/685> Acesso em: 26 jul.2015.
FAGUNDES, José Evangelista. A história local e seu lugar na história: histórias ensinadas em Ceará-Mirim. Natal, 2006. 194 p. UFRN. Orientadora: Profª Drª Maria Inês Sucupira Stamalto. Tese de doutorado em Educação. Disponível em: <ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/bdtd/JoseEF.pdf> Acesso em: 26 jul.2015.
PAIM, Elison Antônio; PICOLLI, Vanessa. Ensinar história local e regional no Ensino Médio: experiências e desafios. Revista História e ensino, Londrina, v. 13, p. 107-126, set.2007. Disponível em: <www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/11647/10331> Acesso em: 26 jul.2015.
[1] Campos (2013) aborda o futebol e sua capacidade mobilizadora sob o ponto de vista geográfico, focalizando a questão territorial.